domingo, 27 de dezembro de 2009

Carrapato bovino está cada vez mais resistente

Considerado o parasita bovino de maior impacto econômico no Brasil - estima-se que os prejuízos provocados por infestações em rebanhos sejam superiores a US$ 2 bilhões por ano -, o carrapato bovino (Boophilus microplus) preocupa cada vez mais os pesquisadores. O que torna o problema mais grave é o fato de a praga estar cada vez mais resistente. "Os carrapaticidas são o principal método de controle e é inevitável que o carrapato crie resistência. O problema é que, com o uso inadequado dos produtos comerciais, essa resistência apareça cada vez mais rápido", diz a pesquisadora Márcia Cristina Mendes, do Instituto Biológico (IB-Apta), da Secretaria de Agricultura paulista.

O Biológico mapeou o controle do carrapato em 30 pequenas propriedades leiteiras, em 6 regiões paulistas. Por dois anos técnicos visitaram propriedades na Alta Sorocabana, no centro-norte, nordeste paulista, leste paulista, sudoeste paulista e extremo oeste e traçaram um "perfil de resistência dos carrapaticidas".

A pesquisa revelou que de sete grupos químicos que compõem os carrapaticidas registrados no País, o carrapato bovino tem resistência parcial ou total a cinco. Os casos de carrapatos resistentes aos piretroides passaram de 83,33% em 2007 para 100% em 2008; para o organofosforado clorpirifós, a resistência saltou de 50% em 2007 para 95% em 2008. "Essa resistência leva a um aumento no número de aplicações, o que faz o produtor gastar mais, eleva o risco de contaminação ambiental e do aplicador, fora o problema de resíduos na carne e no leite", diz.

ETAPAS

A pesquisa avaliou todas as etapas de controle. "Como o carrapaticida era escolhido e como era comprado e qual era o modo de aplicação, quem aplicava, dosagem, tudo", explica. Mesmo conscientes dos prejuízos - redução de ganho de peso e de produção de leite, danos no couro e o risco de o animal contrair a doença fatal conhecida como tristeza parasitária -, os resultados foram desanimadores. A pesquisa constatou que a maioria dos produtores não faz o biocarrapaticidograma (teste que avalia a resistência do carrapato aos carrapaticidas) e compra o carrapaticida por indicação do vizinho ou do vendedor. "Quando o carrapaticida não faz mais efeito é trocado por produto comercial diferente, mas com o mesmo princípio ativo."

Na hora de aplicar há outra sucessão de erros. Dos produtores entrevistados, 37% aplicam o carrapaticida aleatoriamente, sem obedecer à periodicidade recomendada. Também não se segue a dosagem da bula, não se usa o equipamento adequado para aplicar a calda e, muitas vezes, o funcionário encarregado não é capacitado. "Os produtores fazem o controle curativo (quando já há infestação) em vez do preventivo, mais eficiente."

No Sudeste o carrapato começa a aparecer em setembro/outubro, o pico de infestação se dá em junho e a recomendação é entrar com o controle assim que a praga for detectada.

A pesquisadora Márcia Prata, da Embrapa Gado de Leite, aponta as três frentes que constituem um controle eficiente: usar o produto correto, da maneira e na época certas. Após adquirir o produto certo, indicado pelo teste, deve-se seguir a dose da bula, "nem mais nem menos" e fazer a pré-mistura, mantendo a homogeneização da calda. "O equipamento não pode limitar os movimentos do aplicador, por isso o pulverizador costal é indicado apenas para rebanhos pequenos."

Outra recomendação é conter o animal. O operador tem liberdade para percorrer todo o corpo do animal e não "benze" a vaca, pulverizando só o dorso do animal - 4 a 5 litros de calda são suficientes para um banho bem feito num animal adulto. "O carrapato fica escondido no corpo do animal; poucos ficam no dorso por causa do sol", diz, citando, ainda, a importância de não aplicar o carrapaticida sob sol ou chuva. "Também é fundamental ter consciência de que todos os carrapaticidas têm um período de carência, que deve ser respeitado. Os produtos de carência zero são exceção."

A realização do biocarrapaticidograma é o primeiro passo para um controle bem feito, mas pela baixa demanda nos laboratórios constata-se a falta de interesse do produtor. "Se aqui na Embrapa, que faz o teste gratuitamente, a procura é aquém do esperado, imagine nos laboratórios particulares", diz Márcia Prata.

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